sábado, 10 de novembro de 2012

Abra o olho pessoal ! 27 anos do inacreditável “filho único” de Tex



Juarez anuciação dos santos

Setembro foi um mês especial para os texianos de todo planeta. Para a alegria e para a tristeza. Tristeza porque foi nesse mês que o grande editor e argumentista Sergio Bonelli faleceu, uma perda irreparável. Mas alegria porque também foi nesse mês que nasceu o “irmão” de Sergio (ele próprio o considerava assim), o granítico ranger Tex Willer!!!!
E foi também nesse mês que chegou aos olhos dos italianos o inacreditável filho único de Tex!!! Não, não falo de Kit Willer, e sim do “filho único” cinematográfico do ranger. A “cria” eternizada na película  Tex e il Signore degli abissi.
Inacreditável filho único, pois, apesar da Itália ser a terra do western-spaghetti, e o ranger Tex ser a sua principal personagem de banda desenhada, só há um filme até hoje do justiceiro!
A mesma terra dos Césares que já é muito famosa pela gastronomia, pelos bólides de competição, e pelos escândalos políticos, além de tudo isso, tem muita fama também devido exactamente ao seu cinema, e o próprio “western-spaghetti” é um sub-género criado pelos filhos da velha bota.



Então com esse “quadro” cinéfilo, era de se imaginar que, tendo em seu próprio território a maior personagem do mundo das histórias em quadradinhos de faroeste, sucesso em suas bancas desde 1948 (e ao longo do tempo sempre sendo um dos mais vendidos), os italianos aproveitassem o farto material à disposição (e de elevada qualidade), e lançassem vários filmes baseados nessa personagem, o granítico ranger Tex Willer, criação dos seus conterrâneos Giovanni Luigi Bonelli e Aurelio Galleppini. Mas por incrível que pareça, somente um único filme foi feito até hoje.
Esperava-se muito mais, até porque o cinema italiano era muito forte: até o norte-americano Clinton Eastwood Junior, mais conhecido por Clint Eastwood, nascido em 1930 (San Francisco), só alcançou uma carreira vitoriosa no cinema após cruzar o Atlântico e ir trabalhar em O Magnífico Forasteiro (lançado depois como Por um punhado de dólares, em 1964), filme dirigido por um director desconhecido (à época) Sergio Leone – um dos inventores do western-spaghetti.
A ideia de se levar Tex à grande tela ou à televisão, tinha surgido nos anos 1960, e ganhou mais força na segunda metade dos anos 1970, onde se pensou até em Charlton Heston para interpretar o ranger. Mas a interferência de G. L. Bonelli que queria participar da produção acabou por inviabilizar a realização da película. No início dos anos 1980, o assunto voltou à tona e ganhou corpo quando Bonelli finalmente abdicou de participar da produção (mas não de incluir seu filho, Giorgio, entre os guionistas).



O próprio G. L. Bonelli também fez uma aparição no filme da seu personagem: interpretou um velho feiticeiro indígena, fazendo uma ponta no início do filme, além de emprestar a sua voz para a narrativa do desfecho.
Assim nasceu o filme Tex e il Signore degli abissi, (em Portugal, Tex Willer, o Pistoleiro e no Brasil, Tex e o Senhor do Abismo), mas somente após o guião ter passado por revisão onze vezes. Inicialmente filmado para a televisão e piloto para uma futura série com treze capítulos, ao final decidiu-se lançar no cinema. Foi uma produção conjunta RAI Radiotelevisione e Cinecittà, com o actor Giulianno Gemma no papel principal, escolhido pelo público com 72% dos votos para interpretar a personagem, superando nomes como Paul Newman, que ficou em segundo lugar nas pesquisas.  A película estreou em Setembro de 1985 nos cinemas italianos, e ainda contou com a participação de William Berger, Isabel Russinova, Carlo Mucari, Peter Berling, Flavio Bucci e Aldo Sambrell.



O guião foi baseado na história El Morisco, escrita por G. L. Bonelli e desenhada por Guglielmo Lettèri, que saiu nos números italianos 101 – El Morisco, 102 – Sierra Encantada e 103 – Il Signore dell Abisso, de Tex. No Brasil correspondeu aos números 40 – O bruxo mouro, 41 – O mistério das pedras venenosas e 42 – A caverna do Vale dos Gigantes (de Junho a Agosto de 1974), sendo mais tarde republicada na série Tex Coleção, nos números 146 a 149, e também em Tex Edição História 57 (porém as cenas iniciais do filme foram inspiradas na parte inicial de outra história: Mesa dos esqueletos – Tex italiano nº. 188 e 189, no Brasil Tex 124 (Junho de 1981) – republicada na série Tex Coleção, nos números 240 e 241.



As cenas externas foram rodadas na Espanha e as internas em Roma. Dos vários problemas enfrentados pelo director Duccio Tessari (famoso por Ringo -Uma pistola para Ringo, O retorno de Ringo – ambos de 1965, e Zorro em 1975 com Alain Delon) o pior foi o baixo orçamento: para se ter uma ideia, como comparativo, o orçamento era inferior ao que havia sido gasto apenas na cena inicial do filme 007 Na mira dos assassinos, lançado no mesmo ano – 1985.
A trama central do filme gira em torno do mistério da morte de pessoas que têm seus corpos petrificados em segundos depois de atingidas por misteriosas pedras esverdeadas, que são extraídas em poços vulcânicos no interior de uma enorme caverna onde vive o Senhor do Abismo do título.



O filme é controverso e divide opiniões: recebeu severas criticas do público em geral e dos especialistas do sector, por considerarem que ficou com carácter televiso e não cinematográfico, e por ficar preso aos quadradinhos. Não acharam o enredo apropriado para um primeiro filme, pois esperavam um filme de puro western, no entanto, como ocasionalmente ocorria em algumas histórias de Tex, misturou-se à aventura argumentos fantasiosos (que nas revistas até hoje fazem sucesso). Já os fãs adoraram ver o seu herói no cinema, apesar de observarem algumas deficiências na produção, consideraram ter sido em grande parte um retrato fiel aos quadradinhos. Num ponto todos concordaram: os efeitos especiais foram fracos (mesmo para o padrão da época) e poderiam ter sido melhores. Com essa repercussão, até a pretensa série televisiva de Tex após o filme, foi abortada.



Em outros países ocorreram coisas curiosas no lançamento: na Dinamarca, França e Alemanha, a divulgação deu-se por meio de pósteres bizarros, onde o desenho mostrava Tex como se fosse um novo Indiana Jones (e com um chicote que não é usado no filme). Tentaram aproveitar o sucesso do segundo filme do arqueólogo, lançado em 1984 – Indiana Jones e o Templo da Perdição. Em Portugal, foi exibido como Tex, o pistoleiro, e no Brasil, foi distribuído em VHS, na época pela FJ Lucas Vídeo – Tex e o Senhor do Abismo. Há alguns anos saiu a versão em DVD, no Brasil lançado pela ClassicLine – Tex e os Senhores do Abismo. Mas, em ambos os casos saíram com o nome traduzido erroneamente, sendo que o correcto é: Tex e o Senhor dos Abismos. Ainda não há versão em Blu-ray tanto no Brasil como na Itália.



Os fãs da personagem italiana e do cinema western aguardam que um dia surja um novo filme, só que desta vez melhor filmado, de puro faroeste e realmente adaptado à mídia cinematográfica, para fazer jus à grandiosidade da personagem. Até porque, histórias com altíssima qualidade para gerarem excelentes filmes, são uma constante na trajectória editorial do herói bonelliano

O Filme de Tex Willer por José Carlos Francisco

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