domingo, 2 de julho de 2017

Os personagens da independência da Bahia no 2 de Julho

Olá, galera!
Hoje comemoramos o Dois de Julho, com desfiles e homenagens aos importantes personagens na história da nossa independência. Que tal sabermos um pouco mais sobre essas personalidades históricas?
 
O Caboclo está presente nas comemorações da Independência da Bahia desde 1824, quando a população, para relembrar a entrada do exército pacificador em Salvador, enfeitou uma carreta tomada do inimigo na batalha de Pirajá, puseram sobre ela um velho de descendência indígena e levaram-na, em cortejo, da Lapinha ao Terreiro de Jesus, o ritual se repetiu no ano seguinte e, em 1826, foi esculpida a imagem do caboclo que circula nas ruas até os dias de hoje.
Boa parte a identificação popular dessa figura reside no fato dele representar os heróis que lutaram na Independência e que não são comumente lembrados: os soldados esfarrapados, os batalhões de índios usando armas tribais, de negros escravos e libertos, os sertanejos, à população voluntária que se organizou por conta própria em grupos para lutar, e que formaram maior contingente das tropas da Bahia. Como Labatut informou em um oficio ao Ministro José Bonifácio “nenhum filho de proprietário rico tinha se apresentado como voluntario” (TAVARES, 2001, p. 240)
 
Veterano da campanha napoleônica e experiente comandante revolucionário nas guerras na América Espanhola – pelas quais ficou conhecido por “Pirata do Caribe” – o general de origem francesa Pedro Labatut foi contratado pelo governo de D. Pedro I para liderar e organizar o Exército Pacificador. Para por fim aos conflitos entre brasileiros e portugueses decorrentes das lutas pela independência na província da Bahia, coube a Labatut organizar grupos armados dispersos, até então sob comando de civis, em um exército forte, disciplinado e, acima de tudo, leal ao imperador D. Pedro I.
  
Em meio aos conflitos ocorridos na Bahia durante as lutas pela independência do Brasil, destacou-se a religiosa Joana Angélica de Jesus. Baiana, nascida em Salvador, em 12 de dezembro de 1761, Joana Angélica manifestou desde cedo inclinação pela vida religiosa. Seus pais José Tavares de Almeida e Catarina Maria da Silva acolheram de bom grado a vocação da filha.
Como diretora do Convento, Sóror Joana Angélica postou-se à porta de entrada diante dos soldados numa tentativa de impedir que aquele local, totalmente vedado a homens, fosse maculado. Colocou-se como barreira, proferindo as palavras: “Recuai ou só penetrareis nesta casa passando por sobre o meu cadáver” (ABREU, 1973). A abadessa foi atacada a golpes de baioneta pelos soldados, que feriram também o padre Daniel Nunes da Silva Lisboa, capelão do convento.
 
José Joaquim de Lima e Silva residiu na cidade do Rio de Janeiro e comandou o batalhão Imperial – criado em janeiro de 1823. À frente desta tropa o coronel cumpriu as determinações de D. Pedro e veio para a Bahia com a missão de auxiliar as forças comandadas por Labatut, na luta pela independência. Chegando à Bahia, em março de 1823, recebe do Comandante-em-chefe do Exército brasileiro o comando de uma das três brigadas para o ataque contra as forças portuguesas ainda localizadas na cidade do Salvador sob o comandado de Madeira de Melo.
Devido a conflitos por questões políticas internas, inclusive tendo sido informado de uma conspiração de brasileiros para destituí-lo do comando do exército, o General Pedro Labatut, ordenou a prisão do coronel Felisberto Gomes Caldeira, por considerá-lo um dos líderes do movimento conspiratório e, em seguida, ordenou a José Joaquim de Lima e Silva que atacasse a 3ª Brigada rebelada desde a prisão de seu comandante. (TAVARES, 2001, p. 242).
 
A fama de Thomas Alexander Cochrane – mais conhecido como Lord Cochrane – já o precedia, quando ele foi convidado por D. Pedro e José Bonifácio para lutar a frente dos navios brasileiros durante os conflitos de independência do Brasil na Bahia, em finais de 1822. Os franceses o chamavam “Lobo do Mar”, por conta das apreensões de embarcações que fez durante as guerras napoleônicas; e os espanhóis o apelidaram de “El Diablo” – por sua atuação durante as guerras de independência na América espanhola, ao lado de chilenos e peruanos – Lord Cochrane vinha muito bem recomendado para ser o Primeiro Almirante da Marinha Imperial brasileira.
 
Logo após a proclamação da Independência do Brasil, o Conselho Interino de Governo, sediado em Cachoeira na Bahia, conclamou os baianos do Recôncavo a se alistarem para luta da independência do Brasil. O escritor Brenno Ferraz (1923) que descreve a guerra da Independência da Bahia informa que Maria Quitéria solicitou o consentimento ao pai, Gonçalo Alves de Almeida, para ingressar no Regimento de Artilharia em Cachoeira, o que lhe foi negado.
Maria Quitéria intervém e argumenta a sua vontade de, mesmo sendo mulher, participar na luta, assim dizendo:
“É verdade, que não tendes filho, meu pai. Mas lembrai-vos que manejo as armas e que a caça não é mais nobre que a defesa da pátria. O coração me abrasa. Deixai-me ir disfarçada para tão justa guerra. Respondeu-lhe o pai: ‘Mulheres fiam, tecem e bordam; não vão à guerra’.” (FERRAZ, 1923, p. 58).
 
Figura de destaque nas batalhas pela independência ocorridas em Itaparica, Maria Felipa de Oliveira é descrita como uma negra alta e audaz que, sendo uma forte liderança em sua comunidade, tornou-se fundamental na organização da resistência insular.
Após a independência Maria Felipa ainda manteve suas posições de desafio ao status quo e as reivindicações da população; na primeira cerimônia de hasteamento da bandeira nacional na Fortaleza de São Lourenço em Ponta das Baleias, Felipa e seu grupo do qual são conhecidas Joana Soaleira, Brígida do Vale e Marcolina, invadem a Armação de Pesca de Araújo Mendes, português abastado, e surram o vigia Guimarães das Uvas, evidenciando que as lutas da população itaparicana não haviam terminado e demonstrando a hostilidade que havia entre a população brasileira, principalmente negra e mulata – chamada de “cabras” – e os lusitanos que resultavam em conflitos denominados mata marotos. Neste episodio a multidão sai cantando pelas ruas: “havemos de comer marotos com pão, dar-lhes uma surra de bem cansanção, fazer as marotas morrer de paixão” (MARQUES, 1921, p. 236).
 
Após a Revolução do Porto em1820, aBahia reconhece a autoridade das Cortes, apoiando o processo de Restauração portuguesa. Mas, as relações entre baianos e parlamento começaram a se deteriorar a partir do momento em que as medidas adotadas pelas Cortes diminuíram a autonomia da província e ameaçavam o status de Reino Unido a Portugal e Algarves em que o Brasil se encontrava. O ápice das medidas de recolonização se deu com o decreto, de 9 de dezembro de 1921, que diminuía o poder da Junta de Governo – órgão civil de governo da província – e nomeava um tenente coronel português, Inácio Luis Madeira de Melo, para ocupar a função de Governador das Armas – órgão militar de governo – que já era ocupado de forma interina por um brasileiro, o tenente-coronel Manuel Pedro de Freitas Este decreto chegou à Bahia em 15 de fevereiro de 1822, tendo sido enviada diretamente a Madeira de Melo, sem passar pelos órgãos de governo constituídos. Ainda pouco conhecido, Madeira de Melo, que nasceu na cidade de Chaves, em 1775, tornou-se cadete do exército de Portugal aos dezesseis anos de idade. Dentro do exército ocupou os postos de alferes, tenente, capitão, major, tenente-coronel, chegando a coronel em 1818. Após participar da Guerra Peninsular – ocorrida entre 1807 e 1814, na Península Ibérica, evento mais amplo das Guerras Napoleônicas – Madeira de Melo desembarcouem Santa Catarina, dirigindo-se à Bahia para assumir o novo cargo. (TAVARES, 2005, p. 26).
 
Na segunda metade do ano de 1822, Salvador estava dominada pelos portugueses e o Recôncavo pelos senhores de engenho que controlavam quase a totalidade de suas milícias dos municípios e de suas economias, configurando assim a geografia do conflito luso-baiano (REIS; SILVA, 1989, p. 87). O capitão-mor Joaquim Inácio de Siqueira Bulcão, proprietário de vários engenhos de açúcar e plantações de tabaco, foi o primeiro a conclamar outros senhores de engenho para a luta contra os portugueses.
 
Santinho é considerado o primeiro brasileiro a arregimentar tropas para lutar contra os portugueses, pois, em 18 de julho de 1822, já estava com suas tropas colocadas em Pirajá, fechando a estrada das boiadas, e, como afirma Luiz Alberto Moniz Bandeira:
“Essa iniciativa do tenente-coronel Joaquim Pires de Carvalho e Albuquerque revestiu-se de enorme importância estratégica, pois, estando a cidade de Salvador em uma península, banhada de um lado pelo Atlântico e, do outro, pelas águas da Baía de Todos os Santos, ele assentou os dois batalhões da Torre na sua base, ou seja, Pirajá, uma colina cercada de um lado por matas, onde brejos e alagadiços não faltavam, e, de outro, pela encosta que se projetava sobre as praias de Itacaranha, Periperi e outras,. […] E ali, por onde a estrada das Boiadas, […], passava, o coronel Santinho, ao ocupá-la, estendeu as linhas de um ao outro lado e, fechando assim o acesso terrestre a Salvador, interceptou suas comunicações e passou a impedir que o gado lá entrasse, […], privando as tropas portuguesas de abastecimento.” (BANDEIRA, 2000, p. 408-409).
 

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